domingo, 27 de julho de 2008

Vivências em Paris

Andar de bicicleta em Paris, sem dúvida, é uma das melhores coisas para se fazer por lá. Sempre quando os novos residentes da Maison du Brésil perguntava o que é imperdível em Paris eu dizia: "Pegue sua mochila, ponha um vinho, copos, sanduiches e uma bicicleta e vá para o Senna com seus amigos fazer um pick-nick a qualquer hora do dia ou da noite".

Gostei tanto disso que me inscrevi na Marie para uma Carte Velib: um sistema de bicicletas da prefeitura que fica disponivel para o usuário. Você paga 30 euros e anda o ano todo. As bicicletas ficam sempre presas e para tirá-la tem que ter a carteirinha Velib ou pode usar tambem o cartao de credito.

Neste dia estávamos na Bastille e o último metrô tinha acabado de sair. Morávamos na Cité Universitaire, não estaria tão longe e convenci meus amigos a voltarmos de bicicleta. Um deles estava com a camera e resolveu filmar.

Foi maravilhoso!!!

Lizias et Thérèse

LÍSIAS no grego tem o significado de DESATAR, SOLTAR.
Hoje solto meu blog.
Ainda nao sei o que escreverei.
Provavelmente poesias, contos, reflexões, memórias... ou algumas coisas de minha tese de doutorado... ainda nao sei como começar.
Na realidade me dou conta que isso já é um começo.
Também trabalho com a Gestalt-terapia que me ensinou que o agora é o que existe. ´Tendo como fundamento a fenomenologia, a Gestalt me ajuda a apenas a descrever as coisas.
Com a certeza de que não tenho nada, ainda, bem estruturado, acho que vou deixar livre o fluxo de consciencia...

Hoje é domingo, 27 de julho. Poderia ser um domingo qualquer. Mas é um domingo que resolvi ficar em casa para dar conta das tantas coisas de uma tese de doutorado.
Sei o que fazer, mas é exatamente o turbilhão de coisas para fazer que me bloqueia.
Estou lendo vários livros ao mesmo tempo e tentando extrair deles o que importa para minha tese: Simone de Beauvoir - o segundo sexo, Merleau-Ponty "O visível e o invisível" e fuçando a internet para encontrar coisas de Gadamer. Essa semana acabei de ler um livro de autor polonês chamando "Quando eu voltar a ser criança". Me ajudou muito. Pois como meu trabalho é de cunho etnográfico "voltar a ser criança" traz uma vivencia muito interessante sobre o modo de funcionamento da subjetividade infantil.
Isso me lembra que na proxima semana estarei concluindo minha pesquisa de campo. Voltarei à Ilheus-Ba para poder entrar em contato novamente com meus coleguinhas do Infantil IV.
Sinto que o tempo que passei por lá nao foi suficiente e ainda preciso passar mais uma semana. Vai ser pouco o tempo, mas a pressa em adiantar o material para a segunda qualificação da tese está me pressionando muito.
A necessidade era a de passar o ano letivo todo com meus colegas no cotidiano da Educação Infantil. Chamo meus colegas, pois assim me sinto com eles. Isso é bom. Pretendo visitar seus pais e entrevistá-los e ainda pegar o termo de autorização para a pesquisa com seus filhos.
Não tenho filhos e me dou conta que se tivesse, poderia ser mais rica a minha vivencia com crianças. Porem, três coisas sao possiveis para dar conta disso:
1. Meu contato com as crianças, tanto em situaçao de pesquisa, como os clientes de ludoterapia que atendi e meus contatos com meus sobrinhos e crianças de um modo geral.
2. Voltar a minha cidade natal, o sítio onde morei quando tinha 04 anos e fazer algo como o autor do livro faz: imaginar.
3. Posso tambem imaginar que tenho um filho. Essas ficções não sao ficções somente, sao fruto de uma subjetividade que, socializada pelas movimentações da história me fazem pensar em certo modos de como seria ter um filho.

Na realidade, essa tese é meu filho. Uma menina, na verdade. Por conta da tese, deixei de me preocupar em constituir uma familia para poder dar conta de meus estudos. é claro que uma coisa nao impediria a outra. Mas o resíduo que fica, o que tenho que pode ser considerado simbolicamente um filho é essa tese. Daí me vem já o nome de minha filha fictícia: Thérèse.

Me dou conta de que nos 13 meses que passei em Paris me acostumei a escrever thèse no lugar de tese.

De fato, essa filha me dá um problema grande. Talvez seja por isso que nunca tive filhos. Por mais generoso que eu me sinta, acho que sou bastante individualista para cuidar alem de mim, de uma outra pessoa.

Agora mudei para o Word. Estava escrevendo no próprio Blog. Isso me dá a idéia de que preciso cuidar melhor do que escrevo. Arrumar melhor a redação. Sim, assim como neste blog é a preguiça que não me ajuda a fluir melhor na sistematização da thèse.

Ainda não sei como Thérèse irá se desenvolver. São duas ficções. Uma obra acadêmica é uma ficção. Uma teoria.

Sei que o que me chama atenção neste thèse é de que vou me colocar como dado de pesquisa. É a subjetividade do pesquisador como um fio condutor em relação ao objeto de pesquisa de seu interesse.

Neste sentido eu vou precisar argumentar bem isso e mostrar, de alguma forma, em mim mesmo, que, de fato, a neutralidade cientifica é um mito.

Tudo pode fazer parte de minha tese. As conversas que tenho, as imaginações, meu trabalho de campo etc.

Da mesma maneira que em um filho, tudo entra na composição de sua subjetividade.

Trabalharei com o conceito de “Ajustamento Criativo”. Isso implica pensar a subjetividade nada mais nada menos, que um modo da pessoa ajustar, em si mesma a historia e a cultura de uma maneira criativa.

Os brinquedos, jogos e brincadeiras são, os OBJETOS CULTURAIS que exploro para ver como as crianças lidam com as questões de gênero.

Daí preciso ver a mim mesmo nesse movimento de subjetivação das questões de gênero através do brinquedo.

Legal, o menino eu sei como é. Mas e a menina? Thérèse irá me ajudar muito.
Acho que vou colocar no titulo deste blog Lizias et Thérèse.

Gostaria de imaginar tendo essa criança na França. Mas acho que será necessário pensa-la como uma menina brasileira. Em termo concretos eu acho que viverei aqui mesmo no Brasil.

Se tivesse mais dados que iriam morar na Europa eu criaria essa menina por lá. Talvez na Espanha... quem sabe?

Bom, ainda não sei onde essa menina irá se desenvolver. Porem, de fato, como meu estágio na França ela já é uma menina que tem em sua criação vivencias daqui e de lá.
Thérèse, nasceu em 2005. Emergiu de um projeto de doutorado. Atualmente você tem três anos. Eu cuido de você quase todos os dias. Mas vejo o quanto você dá trabalho. Um pai solteiro que gerou você pelo divino Espírito Santo sente falta de uma mãe para cuidar melhor de você.

Se minhas orientadoras podem ser consideradas como sua mãe, o são do mesmo modo que as mulheres do pai, são para a filha, apenas uma madrasta. De fato, eu troquei, nestes três anos, de orientação por duas vezes. Essa atual é sua terceira madrasta.

Imagino o quanto você sofre com isso... fica sem referenciais... apenas eu. E eu, como você já sabe muito bem, sou muito disperso.

Você precisa de muitos cuidados: métodos bem claros para não te confundir nem confundir as pessoas.

Uma ideologia – meus referenciais teóricos – para te ajudar na criação.

E uma boa linguagem.

Mas o pior disso tudo é ajudar você em sua organização.... uma hora você pede uma coisa, outra hora outra...

E haja ajustamento criativo meu para dar conta de você....

Penso em te levar para um filósofo dar uma olhada.... uma espécie de psicoterapia... afinal, você quer brincar com Gadamer, Merleau-Ponty, Husserl, Simone de Beauvoir. Bourdieu? Onde você foi achar esse brinquedo tão complexo?

E quer colocar tudo no mesmo canto.... paciência Thérèse, vou precisar controlar melhor seus brinquedos!

O problema é que você já está tão acostumada com esses brinquedinhos... o jeito é tentar conciliar as horas de brincadeira... para que você consiga viver sua ludicidade da melhor maneira possível...

Você ainda achou de brincar com o tempo... quer pegar a historia... quer pensar no golpe de 64 e fazer uma espécie de epistemologia da repressão em formas subjetivas...

Ah não, para isso vou precisar estudar historia? Você sabe que eu não sou bom nisso...

Você é complexa demais Thésse, seu apelido, carinhoso (?).

Por hoje você já me tomou bastante tempo. Aliás, você nunca está satisfeita. Eu sei... sim eu sei que tirei o domingo para brincar com você....